segunda-feira, 27 de junho de 2011

ARTIGO DE OPINIÃO-EM DEFESA DA GRAMÁTICA



         O título desse artigo já se tornaria equivocado. Por que uma defesa? Existiria um inimigo da gramática? A utilização desse termo já demonstra que até os usuários da norma culta, que se utilizam desse termo, não conseguem unir dois tipos de abordagens da língua: a gramática e a (sócio) lingüística.
          Falar em defesa nos transmite um combate em que se defende e outro que ataca. Se defendemos uma dessas vertentes, é porque acreditamos que ela seja mais “correta” que a outra. Mas o ideal não seria apresentar, nas escolas, juntamente a gramática normativa e as variações lingüísticas? Só que com um diferencial: ensinando em que contexto se pode utilizar cada uma delas? Sim, seria. No entanto, até os que utilizam a norma culta ainda não conseguem se adaptar à uma “camaradagem” da norma culta e popular, como alunos acostumados à uma abordagem fixa sobre a língua seriam aptos a saber diferenciar em que ocasião utilizar cada uma delas? Se só com o ensino da norma padrão esses alunos ainda comentem deslizes ao misturar a norma culta e norma popular, tanto na escrita como na oralidade, imagina se lhes mostrassem que a sua fala não está errada. Os alunos, com certeza, sentiriam-se mais livres para falar “da sua maneira”, só que não iriam querer se utilizar das duas maneiras, mas sim daquela que ele já sabe.
        Seria uma desvalorização involuntária do ensino da gramática. Com o ensino apenas da norma padrão, os alunos ainda escrevem em uma redação “escultar” “preuculpado”, marcas registradas da língua oral. Se permitirmos a utilização da norma popular livremente, estaremos estimulando o aluno ao erro tanto na escrita, porque ele irá, sem perceber, reproduzir o que fala na escrita, como nas ocasiões formais, pois fica difícil policiarmos a nossa fala só em certas ocasiões, pois a fala que queremos utilizar em outros momentos sai tão livre e sem preocupações.
         Como dizer que podemos falar com as “variantes lingüísticas”, mas logo após, colocando uma ressalva que se pode sofrer um preconceito lingüístico com isso. Como falar de maneira livre, se em vestibulares e concursos querem cobrar a norma padrão? Quanto mais dominamos a sintaxe, mais articulada, objetiva e claramente comunicamos. A gramática nos dá condições de raciocínios mais complexos. Desde quando o falar popular nos propicia uma evolução cultural e econômica?


Mariane Pontes Frota

5 comentários:

  1. Desculpe,
    Mas voce precisa de ler melhor sobre os temas elencados acima.

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  2. Desculpe, não conheço a palavra elencados .

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  3. Não entendi se a pergunta final foi realmente uma pergunta, com a intenção de deixar o questionamento em aberto, ou se foi uma afirmação, em função desse "desde quando" ser comumente usado na fala em forma de afirmação (desde quando eu lhe dei permissão para tal coisa? etc). Se foi uma pergunta, beleza. Agora, se foi uma afirmação, me desculpe. O falar popular de hoje faz parte da norma padrão da gramática de amanhã.
    Abraço.

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  4. Artigo de opinião – Não contra a Gramática!

    O artigo é interessante, apresenta questões importantes, cuja reflexão abriria caminhos inesgotáveis de crescimento. Porém, tal como conhecedor e pesquisador da língua, devo fazer algumas ressalvas.
    Você inicia seu artigo apresentando os motes da argumentação. Desenvolve de acordo com o que acredita. No final, contudo, finaliza com alguns questionamentos que a mim desperta certo incômodo.
    Primeiro, acredito que ensinar variantes, apresentar ao aluno possibilidades flexíveis no uso da língua, não seja necessariamente desvalorizar o ensino da gramática, mas oferecer possibilidades. Percebo que entre nós - estudiosos do assunto - há consenso de que a função primeira do texto é estabelecer comunicação e, para isso, é preciso que haja sentido. Enredar palavras dentro de uma frase com sintaxe bem articulada não é garantia de que haverá sentido. Ao contrário, há muitos textos bem produzidos sintaticamente, mas pouco eficientes no exercício da comunicação. Nesse caso, não só o texto fica sem sentido, mas também sua existência. A questão aqui, reafirmo, não é depreciar a gramática, mas incorporá-la as outras visões científicas sobre o texto e ampliar o olhar. Somar forças!
    Além disso, estreitar a visão analítica apenas na gramática e afirmar que permitir “a utilização da norma popular livremente” é induzir ao erro, de certa forma não seria subestimar a capacidade dos alunos? Falo isso, pois também partia dessa perspectiva. Contudo, a partir do momento que decidi aplicar a visão linguista na sala de aula, percebi que meus alunos passaram a criar uma consciência do que é ou não permitido na produção do texto, associado a um contexto. Fiquei impressionado!
    Não sei ao certo o que se pretendeu com “utilização da norma padrão livremente”. De acordo com a linguística, o uso das variantes está associado à sua efetivação consciente e coerente no contexto. Dessa forma, não há uso livre. Partindo disso, acredito que a Linguística seja mais desafiadora, uma vez que não só os elementos gramaticais são articulados, mas a melhor apropriação desse enlace no contexto ideal para ele.
    Por fim, o discurso do preconceito linguístico é discutido por aqueles que não criaram tampouco fortaleceram esse inço, mas vem daqueles que desacreditaram do respeito à nossa identidade. Talvez não se tenha percebido, e isso é passível de muitos, que discursos como “Desde quando o falar popular nos propicia uma evolução cultural e econômica?” reverberem e acentuem preconceito. As discussões sobre preconceito não teriam fundamento se os mentores passassem a acreditar nas possibilidades.
    Não quero fazer demagogia, nem me colocar numa posição superior. Apenas aceitei esse novo desafio e compartilho as experiências de sucesso que tive com o tema.
    Para finalizar, virar as costas para a cultura popular é negar a própria essência. Tenho plena convicção de que todos não partimos de uma cultura erudita. Primeiro levamos o que somos, depois imprimimos informações sistematizadas e, por fim, recriamos novamente a própria existência. Sem a cultura popular, a erudição perde fundamento e vice-versa.

    Diego Lopes
    Professor de Língua Portuguesa, efetivo na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

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  5. Prezado Professor Diego Lopes,

    Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo pelo texto, muito bem-escrito, com uma argumentação lógica e uma dinâmica textual muito interessante. Agora, quanto ao conteúdo de seus argumentos, dou-me o direito de discordar. Ao ler seu texto, percebi que Vossa Senhoria domina bem as regras gramaticais, pois usou corretamente os pronomes, a pontuação (usou exclamação e aspas na hora exata e sem exageros), os tempos verbais, ou seja: escreveu dentro do padrão culto estabelecido pela "elite cultural", padrão esse para cujo ensino metódico Vossa Senhoria torce o nariz. Fez-me lembrar o pensamento "Quem disse que dinheiro não traz felicidade provavelmente tinha bastante".
    Professor Diego, a sociedade impõe alguns comportamentos, e, a menos que decidamos ser ermitões, precisamos nos adaptar a eles para não nos sentirmos à margem dela. A intelectualidade, o domínio das estruturas da língua, o saber múltiplo sempre serão itens valorizados no mercado de trabalho, e aquele mais aquinhoado intelectualmente é o que poderá vislumbrar ascendência maior no concorrido mundo laboral. E para que educamos nossos alunos, que não para estarem preparados para o selvagem mundo profissional, em que eles, em determinado momento de suas vidas terão que entrar em disputa por vaga de emprego. A realidade é essa!
    Por mais justo e belo que possa parecer, não passa de utopia imaginar que os falares têm valor igual na urbe ocidental em que nos inserimos. É malvadeza incentivar a língua despreocupada aos alunos, pois essa é a que eles trazem de casa, adquirida em seu convívio diário com os seus, uma vez que as empresas (quer públicas ou privadas) estão valorizando cada vez mais o domínio dos preceitos da gramática normativa. De nada servirá ao aluno saber que a forma "a gente veve" se equipara na fala a "nós vivemos". Ideal é que essas discussões permaneçam no nível acadêmico, pois, para o jovem em processo de formação intelectual, servirá apenas para que ele se desestimule a utilizar o padrão exigido nas comunicações institucionais. Vossa Senhoria certamente consegue decodificar este meu texto, porque domina os meandros da língua. Mas será que o jovem de dezoito anos cuja educação foi baseada nos preceitos da linguística, que aprendeu que sua variante linguística é tão importante quanto qualquer outra, conseguiria entender a mensagem que este aglomerado de palavras tenta conduzir? Professor, nenhum defensor da linguística que conheço deixaria de "corrigir" seu filho de seis anos quando este dissesse "fazi", "menas", "truxe" ou "a gente fumo", pelo simples fato de que, como pais, têm consciência da importância do domínio do padrão culto para o reconhecimento profissional de seus filhos no futuro. Do contrário, estariam contribuindo para o fracasso deles. Isso é um fato, e contra fatos não há argumentos. Mais uma vez, parabéns pelo bom domínio do vernáculo.
    Atenciosamente.
    Prof. Jáder Cavalcante de Araújo,
    São Luís-MA
    Autor dos livros: "Você pode (e deve) escrever melhor" e "De olho no Português".

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