DIÁRIO DO NORDESTE - CONTRA A SOCIOLINGUÍSTICA NAS SALAS DE AULA





O idioma desfigurado




Publicado em 30 de maio de 2011 




Sinceramente, preocupo-me com os rumos que o Brasil está tomando, em termos de Educação. Já temos um ensino que não pode mais reprovar - redundando em milhões de desqualificados num futuro não tão distante - , a falta de infraestrutura em muitas escolas públicas e professores que, apesar do reconhecimento do seu piso salarial pelo Judiciário, ainda lutam arduamente por sua implantação. Mas os desvarios não param por aí. Agora mesmo, sob a absurda chancela do próprio Ministério da Educação, quer-se nivelar por baixo um panorama já desolador. A pá de cal, que atenta contra as normas linguísticas transmitidas anos a fio nas escolas, é a adoção do livro didático "Por uma vida melhor", da editora Global. A obra rompe com todos os cânones linguísticos e sua autora, Heloísa Ramos, defende uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a escrita, afirmando que frases como "Seje mais estudiosa!" ou "Nóis pega o peixe" são tão válidas quanto suas similares escritas da maneira considerada, até hoje, correta.

A Academia Brasileira de Letras divulgou nota em que discorda da posição do MEC quanto ao livro com erros gramaticais, que será distribuído a mais de 400 mil jovens e adultos em 4.236 escolas. Esta posição, ao meu ver, deve ser seguida por todas as academias de letras e de língua portuguesa do País, combatendo o que o ministério chama de "reconhecimento da variação linguística". A língua é um dos elementos constitutivos de um povo, de uma nação, e como tal deve ser respeitada na sua estrutura, sem concessões ou distorções. Não deve ser "flexibilizada", como diz o MEC em outra nota, jogando para a escola (mais uma vez!) "o papel de criar situações de aprendizagens" que permitam aos alunos "utilizar diversas variedades linguísticas". Quando se busca a excelência no ensino da língua, surpreende que o ministério que supostamente deveria defendê-la atue exatamente no sentido de desfigurá-la! Os gramáticos e acadêmicos devem repudiar imediatamente este disparate, que constitui autêntico crime contra o idioma e a cultura nacionais. Que se rebelem, pois, contra esta situação!


Gilson Barbosa - jornalista





De Olho na Tela

Publicado em 29 de maio de 2011



Em defesa do idioma
Cinema também é cultura, portanto esta coluna cede hoje seu espaço para registrar nosso reiterado protesto pela publicação do livro, pretensamente de língua portuguesa, "Por uma Vida Melhor", da coleção "Viver, Aprender", recentemente adotado pelo Ministério da Educação (MEC).

Referida publicação defende que o uso da linguagem popularesca, ainda que eivada por acintosos erros gramaticais, deve ser considerada válida sob diversos aspectos, inclusive sob a discutível justificativa de que os alunos habitualmente praticantes de linguajar errado poderiam ser vítimas de um suposto "preconceito linguístico". A edição foi distribuída oficialmente pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos, através do próprio MEC.

A autora da obra supostamente educativa, professora Heloísa Ramos, alega que "o importante é chamar a atenção para o fato de que a idéia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela idéia de uso adequado ou inadequado da linguagem, dependendo da situação comunicativa". Na realidade, o inoportuno livro, merecidamente criticado por conceituados mestres e entidades culturais, apenas ensinará aos alunos, sem maiores restrições, o emprego de expressões ainda mais erradas do que inúmeras outras hoje vulgarmente usadas em vários segmentos da sociedade brasileira.

Uma análise atenta e racional da questão revela que as acusações contra a "norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas" apenas tentam camuflar uma exacerbação da tese muito em voga do "politicamente correto", agravada pelo fato de ferir um dos princípios básicos da educação, qual seja o do respeito à pureza e à correção do idioma.

Frases populares enunciadas no cotidiano de forma incorreta são até admissíveis, em decorrência de notórias deficiências na estrutura educacional do País, mas aconselhar como aceitável o seu uso, em uma publicação distribuída entre estudantes pelo próprio Ministério da Educação, excede os limites da compreensão de quem entende a expressão no falar e no escrever como um pilar básico no tocante a inúmeras formas de civilização e desenvolvimento.

É lamentável que esse fato ocorra exatamente quando eclodem movimentos, entre os próprios jovens e, inclusive, através de concorridos sítios da Internet, com o objetivo de estimular o essencial hábito das boas leituras, a partir de obras aparentemente menores, destinadas a crianças e adolescentes, até chegar ao patamar dos clássicos da literatura.

Do mesmo modo que a leitura de um "best-seller" romântico, ou a visão de um bom filme, pode levar os jovens ao interesse acerca de obras de autores como Jane Austen, Machado de Assis ou Henry James, o estímulo ao que é certo seria muito mais lógico e producente dentro de uma proposta que se pretende educativa, mas no cerne só apresenta a possibilidade de estimular a proliferação de agressivos erros gramaticais.



José Augusto Lopes





Livro adotado pelo MEC defende falar errado


12 de maio de 2011 // 23h13    (Agência Estado)




"Nós pega o peixe" ou "os menino pega o peixe". Para os autores do livro de língua portuguesa 'Por uma vida melhor', da coleção Viver, aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC), o uso da língua popular - ainda que com seus erros gramaticais - é válido. A obra também lembra que, caso deixem a norma culta, os alunos podem sofrer "preconceito linguístico".
Diz um trecho do livro, publicado pela editora Global: "Você pode estar se perguntando: `Mas eu posso falar 'os livro'?. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas".
O livro foi distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos a 484.195 alunos de 4.236 escolas, informou o MEC. Em nota enviada pelo ministério, a autora Heloisa Ramos diz que "o importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa".
"Como se aprende isso? Observando, analisando, refletindo e praticando a língua em diferentes situações de comunicação", segue a nota. Heloisa afirma que o livro tem como fundamento os "documentos do MEC para o ensino fundamental regular e EJA (Educação de Jovens e Adultos)" e leva em consideração as matrizes que estruturam o Exame Nacional de Certificação de Jovens e Adultos. (Encceja). A editora Global disse à reportagem, por meio da assessoria de imprensa, que é responsável pela comercialização e produção do livro, e não pelo conteúdo.



DPU quer recolher livro que defende fala coloquial



30 de maio de 2011 // 19h30    (Agência Estado)

A Defensoria Pública da União no Distrito Federal (DPU-DF) entrou com uma ação na Justiça Federal para que sejam recolhidos das escolas públicas os 485 mil exemplares do livro "Por uma vida melhor". A obra defende que o uso da língua coloquial - ainda que com seus erros gramaticais - é válido na tentativa de estabelecer comunicação.
Para o defensor público federal Ricardo Salviano, questões de sociolinguística não devem ser discutidas dentro da sala de aula. "Escola é lugar onde se deve ensinar a norma culta. Se você diz que falar errado é aceitável, está prestando um desserviço à sociedade", critica.
Uma comissão formada por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) aprovou "Por uma vida melhor". Ao todo, 4.236 escolas escolheram o livro, a partir de informações que constavam no Guia do Livro Didático. "Quem define as políticas públicas educacionais é o MEC, que tem responsabilidades, sim, sobre qualquer material encaminhado às escolas e financiado com verba federal", afirma Salviano.
Na semana passada, o ministro Fernando Haddad disse que houve "uso político" do episódio. "A quase totalidade das pessoas que criticaram o livro não o leram. Fazer uso político para atacar o Ministério e colocar essa profissional (Heloisa Ramos, uma das autoras) numa situação completamente injusta não me parece o caminho mais adequado pra discutir educação", disse Haddad. O MEC não pretende recolher o livro.

Livro não será adotado no CE

Publicado em 29 de maio de 2011 

Para o Ensino Médio, o Estado fez aquisição de livros com recursos próprios para atender os alunos em 2010 e 2011
O livro “Por uma Vida Melhor”, que contém erros de concordância, distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos, do Ministério da Educação, não será adotado pelas escolas cearenses municipais e estaduais. Na publicação, são usadas frases como: “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”. Segundo as secretarias municipal e estadual de Educação do Ceará, o motivo da escolha de outros livros não foi os erros de concordância. 

O livro didático distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) a 4.236 escolas brasileiras que defende a escrita sem concordância de expressões orais populares, apoiado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), ressalta que não há só uma forma correta de falar o português brasileiro. 

Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), a escolha dos livros didáticos é feita, no fim do ano letivo, por meio de enquetes entre os professores da rede municipal. 

Conforme a Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), entre os livros escolhidos pelos professores da rede estadual, para o 6º ao 9º ano, da Educação de Jovens e Adultos, também não está incluso “Por uma Vida Melhor”. Ainda segundo a assessoria de imprensa da Seduc, no que diz respeito ao Ensino Médio, o Estado fez aquisição de livros com recursos próprios para atender os alunos matriculados em 2010 e 2011. 

Para o psicólogo e mestre em educação, Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, todo processo de inclusão precisa ser valorizado na educação. E nesse aspecto, devem estar incluídas também as pessoas que têm um berço cultural diferente do padrão “adequado”. Segundo ele, a preocupação do MEC é de grande relevância para que todos se sintam acolhidos na escola. 

ExageroPor outro lado, Marco Aurélio acredita que houve um certo exagero na adoção desse livro paradidático pelo MEC. Ele ressalta que, considerando a forma popular como correta, a escola começa a perder o sentido que é de ensinar o que foi definido como padrão linguístico. 

“Uma coisa é você aceitar aquele aluno falando as expressões populares originárias da sua cultura, outra coisa é aceitar que essas expressões sejam usadas como corretas”, diz. Segundo ele, a melhor forma de incluir esses alunos é explicando, em sala de aula, a origem dessas palavras, sem esquecer de usar o padrão linguístico adequado. O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que o governo não vai mandar recolher o livro, caso contrário o Ministério estaria fazendo censura.
Karla Camila 
Especial para Cidade

MEC não vai recolher livros

Publicado em 20 de maio de 2011 

Material didático que causou polêmica ao incluir frases com erro de concordância foi defendido por ministro
Brasília O ministro da Educação, Fernando Haddad, defendeu, ontem, a abordagem do livro "Por uma Vida Melhor", de alfabetização de adultos, que defende o uso da norma popular em situações de fala.

O livro causou polêmica ao incluir frases com erro de concordância como "nós pega o peixe" em uma lição que apresentava a diferença da norma culta e a falada. No texto, a autora da obra defende que os alunos podem falar do "jeito errado", mas devem dominar as regras da norma culta e ter atenção quanto ao seu uso. Para o ministro, acusação de que o livro "ensina a falar errado" é um equívoco.

A Academia Brasileira de Letras (ABL) condenou a posição da autora e criticou o MEC por defender a obra. O ministro Haddad já disse que os 484 mil livros comprados e distribuídos às escolas não serão recolhidos.

"O livro parte da situação da fala, mas induz o jovem a se apropriar da norma culta. Os críticos infelizmente não leram o livro, fizeram juízo de valor com base em uma frase pinçada do contexto", defendeu Haddad durante entrevista ao programa de rádio Bom Dia, Ministro, produzido pela EBC Serviços em parceria com a Secretaria de Comunicação da Presidência.

InternetO ministro comparou os erros de concordância muito comuns na língua falada, especialmente na população mais pobre e não escolarizada, à linguagem utilizada pelos usuários da internet e de redes sociais. "Quando um jovem manda mensagens no seu Twitter, no seu e-mail ou Orkut, ele faz uso da linguagem habitualmente utilizada naquele ambiente, até de maneira lúdica, ele modifica a língua e cria sinais próprios", afirmou o ministro.

Linguistas e especialistas em educação de adultos defendem que a aceitação da variedade popular é parte importante do trabalho com o público que não frequentou a escola na idade correta. "O aluno chega à escola com uma linguagem já constituída muito longe do que é a norma culta. Se acha burro por falar errado", aponta Vera Masagão, presidente da organização não governamental (ONG) Ação Educativa e especialista em EJA.

Cearenses protestam contra a distribuição

Publicado em 25 de maio de 2011 

Alguns deputados entendem que haverá prejuízos para os jovens estudantes da escola pública brasileira
A distribuição pelo Ministério da Educação de um livro que tolera erros gramaticais, como os de concordância, gerou críticas ontem, durante sessão na Assembleia Legislativa. Alguns deputados posicionaram-se contrários à distribuição do livro que considera corretos erros como "nós pega".

O deputado Carlomano Marques (PMDB), foi o primeiro a abordar o assunto na tribuna da Assembleia. Ele argumenta que por mais que possamos ficar à vontade no uso do português, o domínio do idioma padrão é a ferramenta maior de desenvolvimento de qualquer País.

Na sua opinião, não se pode fazer da exceção a regra e liberar os jovens do estudo formal, pois entende que mais tarde eles serão prejudicados quando forem ingressar no mercado de trabalho, seja na prestação de concurso público ou mesmo na participação de entrevistas de emprego. "O Estado não pode se eximir da tarefa de educar", defendeu o peemedebista.

Além disso, o deputado acredita que a fala popular não pode sofrer perseguição, nem preconceito linguístico, mas deve-se sempre defender as normas da língua portuguesa. "Não podemos nivelar por baixo, temos que nivelar por cima. Temos que trazer quem não sabe para o conhecimento. A norma culta não pode ser fulminada por ideologismo de botequim que quer transgredir a juventude brasileira", alegou.

Preocupante
Carlomano, em vários momentos do seu pronunciamento, reprovou o fato de o ministério da Educação ter feito a distribuição dos livros com meio milhão de estudantes brasileiros, prejudicando duas vezes a nossa juventude, tanto por prejudicá-la na parte referente à aprendizagem, quanto pelo desvio dos recursos para o tal livro em detrimento de questões mais importantes para a juventude.

O deputado José Teodoro (PSDB) leva quase que diariamente para a tribuna da Assembleia, assuntos ligados à área da educação. Ontem, o tucano abordou a questão dos livros. Segundo ele, apesar das críticas o MEC se mantém irredutível, pois afirma que a escolha partiu dos professores.

"A escolha vem de uma lista de opções. Essa que ensina a falar errado deveria estar de fora. A opção ter sido dos educadores só torna a situação ainda mais preocupante", avaliou. O deputado fez um apelo para que os órgãos competentes do Ministério revejam o assunto.

O líder do Governo na Assembleia, deputado Antônio Carlos (PT), defendeu que a língua é o símbolo máximo da cultura de um País e, portanto, deve ser respeitada em todas as suas regras, mas preferiu fazer restrições à matéria publicada pela Revista Veja.

Para o deputado Welington Landim (PSB), conhecer bem a língua portuguesa deve ser algo fundamental para o brasileiro. Caso o livro "Por uma Vida Melhor" seja distribuído nas escolas públicas do País, Landim acredita que vai ocasionar um "apartheid" entre alunos da rede pública e os da rede privada. No seu entendimento, terão melhores condições de galgarem sucesso, aqueles que aprenderem as regras corretas da língua portuguesa.

Na avaliação do deputado Roberto Mesquita (PV), o livro "Por uma Vida Melhor" "assassina a gramática e estimula a ignorância". Cerca de 485 mil estudantes do ensino fundamental devem receber a obra distribuída pelo MEC por meio do Programa Nacional do Livro Didático, diz o deputado.


Material compilado por: Teófilo Leite Beviláqua